domingo, 2 de dezembro de 2012

Papel, papel para todos os lados!

Não sei quanto a vocês, mas, quando eu estava na escola, não foi senão por volta do meu segundo ou terceiro ano do ensino médio que os professores começaram a aceitar mais tranquilamente trabalhos digitados e impressos. Eu, pelo menos, já estava familiarizada com a existência e a utilização dos computadores há uns bons 10 anos, e não entendi porque não podia usar uma ferramenta tão prática pra resolver minha vida, e facilitar a dos professores também, já que minha letra cursiva era horrorosa.

Hoje, quase 10 anos depois de minha formação, as coisas mudaram sensivelmente. Embora para algumas coisas ainda se tenha uma certa restrição (por exemplo, no Sartre se pede fichamento manuscrito), num geral a tolerância e aceitação a trabalhos digitados é bem mais abrangente, pelo menos no ensino médio (não tenho dados sobre ensino fundamental). Ainda assim, os trabalhos ainda devem ser impressos, o que mostra que, num mundo onde as posses são progressivamente mais imateriais, a escola ainda não parece estar preparada pra aceitar mudanças tão drásticas.

Há pouco mais de um ano, estagiei em um curso livre de inglês onde devíamos cobrar dos alunos, ao menos uma vez a cada duas semanas, uma redação. Ao ser questionada pela coordenadora porque minha pasta frequentemente estava vazia, respondi alegremente que pedia aos alunos para que, se possível, me enviassem as redações por e-mail para evitar atrasos relacionados a faltas e minimizar a não-entrega acompanhada de desculpas tais como "não tive como imprimir", embora ainda deixasse claro que, se o aluno preferisse, poderia me entregar manuscrito. O resultado é que quase todas as redações eram enviadas por e-mail, e, consequentemente, o feedback era enviado também por e-mail, e eu ficava com uma cópia virtual do texto e da revisão para o caso de possíveis dúvidas na correção. Com isso, recebi uma bronca e o alerta de que os alunos PRECISAVAM da cópia física para poderem assessorar seu próprio desenvolvimento.

Fiquei sem entender. A maioria dos meus alunos eram alunos de graduação da UFBA, com a faixa etária similar à minha. Um ou outro era mais velho, e eram justamente esses que davam preferência a me entregar cópias físicas de seus textos, o que me levava a crer que eram os que prefeririam o feedback dado da mesma forma (e assim o recebiam). Por que os que privilegiavam o contato virtual necessitariam tanto assim de mais papel pra carregar só pra saber se estavam indo bem ou não?

Ainda há os que contraporiam, "mas o curso precisa de um registro físico das notas dos alunos, não?" Minha resposta é: não nesse caso. As redações eram devolvidas aos alunos. E, de qualquer forma, com meu jeito de lidar com isso, caso me fosse pedida uma cópia da redações, eu poderia facilmente enviar por e-mail à coordenação tanto o texto original quanto o texto com revisões, sem a necessidade de uma despesa maior com papel e tinta de impressora. Ou seja, a coisa toda não fazia sentido.

Dessa forma, deixo aqui um pedido de esclarecimento e uma proposta para reflexão: qual, realmente, é a necessidade de se exigir "provas concretas" de conhecimento quando vivemos num mundo progressivamente virtual e digital?